Elisa Rosenthal Tawil
Fundadora e sócia-diretora da JL&co, especialista em
mercado imobiliário, com passagens pelas principais
empresas do setor, em nível nacional e internacional.
Focada em gestão, negociação e solução de conflitos.
Uma nova forma de se trabalhar está em curso no Brasil e, de tendência, vem passando para o status de palpável realidade. Trata-se do crescimento dos coworkings – espaços compartilhados, onde empresas e profissionais autônomos usam o mesmo ambiente físico – e dos escritórios virtuais, que ganham aderência por oferecer uma alternativa prática e econômica ao empreendedor.
“O mercado está se adaptando bem a este modelo, uma vez que o escritório convencional segue uma tendência mundial de adaptar-se ao mundo conectado. Por isso, vemos tantos espaços de coworking em locais inusitados ou ajustados. A própria geração Y, ou millenials, impõe essa necessidade. Para ela, não faz sentido ficar duas horas presa no trânsito para sentar-se em frente a um computador, respondendo e-mails e atendendo ao telefone. A produtividade independe de escritório”, explica Elisa Tawil, sócia-diretora da JL&co, empresa especializada em incorporação e gestão imobiliária.
“A principal vantagem do coworking, sem dúvida, é sua rede de contatos e possibilidades oferecidas pela troca entre as empresas e profissionais envolvidos. O escritório virtual é um formato mais adequado para quem prima pela privacidade, não faz questão dessa interação e ainda prefere o formato home office.”
No Brasil, segundo o Censo Coworking Brasil 2016, existiam no ano passado cerca de 380 espaços ativos, agregando 10.000 profissionais – um aumento de 52% em relação a 2015. A maioria fica em São Paulo: 148. Minas Gerais aparece em segundo lugar, com 37 espaços e, em terceiro, vem o Rio de Janeiro, com 35.
Ainda de acordo com o levantamento, 65% dos profissionais trabalham com consultoria, 50% com publicidade e design, 45% com marketing, internet e startups, e 38% com advocacia. Outras áreas como negócios sociais, vendas, jornalismo, educação, serviços jurídicos, artes e terceiro setor figuram no levantamento.
Pelo mundo, de acordo com o Global Coworking Map, são cerca de 1.500 espaços compartilhados, em 790 cidades.
“Produzo no coworking de uma agência de mídias sociais há uns 2 meses em Pinheiros, São Paulo. É minha primeira experiência. O espaço é gostoso porque é compartilhado. São várias empresas, de ramos diferentes. É bom para fazer contatos e networking. Fora isso, o escritório te dá uma vida social mais ativa, aparecem mais oportunidades de negócio”, explica Daniel Akashi, arquiteto e designer. “Mesmo que haja empresas concorrentes, dá para pegar várias referências, as pessoas se ajudam. Se você trabalha em casa, acaba ficando meio isolado. Eu pretendo continuar trabalhando em coworking por um bom tempo.”
O ticket médio é um dos pontos positivos de ambas as opções. Um espaço de coworking em São Paulo, por exemplo, vai de R$200,00 a R$900,00 por posto de trabalho. Já o escritório virtual pode variar entre R$90,00 e R$290,00 mensais, com atendimento personalizado trilíngue.
O advogado Bruno Zilberman Vainer, sócio do Escritório Vainer & Villela Advogados, trabalhou com a Times Office (escritório virtual BESP) até abril, e passou cinco anos com eles. “Alugávamos uma sala e íamos todos os dias. Usávamos a sala de reunião, pagando por hora. A vantagem do escritório virtual é que você paga um valor e, nele, está contido quase tudo: aluguel, condomínio, IPTU, luz, limpeza, recepção. Fica mais barato e menos burocrático”, diz Vainer, cujo escritório possui sede própria.
“O escritório virtual é muito prático, mas pouco confortável. Você tem tudo à mão. No entanto, minha sala era minúscula. Éramos quatro pessoas trabalhando em 12 m². Uso o serviço telefônico da Regus até hoje. Pago menos de R$300,00 por mês e tenho uma telefonista bilíngue ao meu dispor. Isso funciona muito bem e eu não quero me desfazer do serviço. Se fosse contratar uma secretária bilíngue, ia ter um gasto total de R$3.000,00.”
Somente a Regus, uma das líderes mundiais em escritórios virtuais, está presente em 900 cidades ao redor do mundo, com mais de 3.000 espaços. Em breve, a gigante norte-americana do coworking WeWork iniciará as suas atividades em São Paulo.
As tendências de mercado também trazem desvantagens de ambos os lados, diz Elisa Tawil, da JL&co: “Neste formato de troca e conectividade, o coworking pode não comportar um eventual crescimento da empresa, com opções de posições restritas. Espaços mal planejados podem ser igualmente um problema, especialmente, em relação à acústica e dimensionamento de espaços comuns versus o número de usuários, como banheiros e copa”.
Num escritório virtual, as desvantagens são os conflitos por disponibilidade de agenda e deslocamento em cidades impactadas pelo trânsito.
Ambos os modelos, entretanto, trazem em conjunto a certeza de que a forma de se trabalhar mudou e que, na era da conectividade, compartilhamento e praticidade são indispensáveis para empresas e profissionais.